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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Inovar é acompanhar o avanço da tecnologia pelo bem da sociedade.

'A sociedade será melhor se compartilhar soluções'

O Globo, Conte Algo Que Não Sei, 10/jun

"Tenho 43 anos, sou holandês e também alemão. Sou diretor de pesquisas do instituto Waag Society, da Holanda. Somos um grupo de 60 pessoas desenvolvendo tecnologias para inovação social. Trabalhamos nas áreas de saúde, educação e patrimônio e ajudamos a democratizar o acesso às tecnologias." (Frank Kresin é um pesquisador holandês, ex-cineasta e mestre em inteligência artificial, que veio ao Rio para o seminário 'Cidades resilientes, cidadãos inteligentes', promovido pelo IED).


Conte algo que não sei.

Não há limite para o que o indivíduo pode fazer por si mesmo. A internet nos capacitou para acharmos novos amigos, redes e recursos. O crowdfunding é um exemplo. Vi pessoas fazerem pequenos satélites em suas garagens. Conversei com uma que fez um reator de fusão nuclear na sala. Então, se alguma coisa impede que você faça o que realmente quer, você não está se levando a sério. Podemos quase tudo.

O que é a cidade inteligente?

Por volta de 2008, havia uma crise financeira, e muitas empresas não podiam mais arcar com os custos de ideias caras. Então, as companhias que forneciam essas soluções disseram: "Ei, cidades, se vocês começarem a empregar tecnologia numa escala maior vocês se tornarão inteligentes." Inteligência significa mais eficiência, mais transparência. Muitas iniciativas de cidades inteligentes se referem a melhorar o "metabolismo urbano": mobilidade, manejo da água, do lixo, da energia. Se tecnologias forem empregadas e sensores instalados em todas as ruas os processos serão mais eficientes e as pessoas terão uma vida melhor.

E qual o papel do cidadão?

Não se pode ter cidades inteligentes sem cidadãos inteligentes. Os cidadãos estão começando a se movimentar. Todos têm um telefone e podem, com um toque, criar as próprias soluções. Está acontecendo por todo lado.

Ainda é um movimento basicamente europeu?

Não conheço muito o Rio. Posso falar de Amsterdã, Barcelona, Helsinque, Paris, Londres... Lá, você vê as pessoas compartilhando coisas, em vez de só comprar. A sociedade será melhor se começarmos a compartilhar soluções.

Cite exemplos de compartilhamento que já são realidade, além de carros e Airbnb.

Em Amsterdã, as pessoas estão começando a medir por conta própria a poluição do ar, porque sabem que ela está muito alta e a prefeitura não faz o suficiente para conter o problema. O partido espanhol Podemos vem usando ferramentas poderosas de democratização, com decisões colaborativas. Há muitos exemplos, e tudo isso tende a ocorrer cada vez mais e em maior escala.

Como serão as cidades no futuro?

Vejo como lugares onde os cidadãos inteligentes se manifestam e onde há uso massivo de tecnologias. Espero que sejam transparentes, democráticas e inclusivas. Mas só será possível quando as pessoas começarem a usar tecnologias. Não falo de teoria, mas de começar já na escola.

Não seria uma utopia?

Não, estamos falando do presente. Estamos enfrentando mudanças climáticas, recessão, envelhecimento da população, crise na mobilidade. Precisamos pensar em novas soluções. Sou muito otimista. Se vocês têm mais problemas do que nós, também têm mais urgência por novas soluções. E elas não têm a ver com largos recursos, e sim como se reorganizar usando as tecnologias que vocês têm à mão.

Qual o papel dos governos?


Investir na alfabetização tecnológica e convidar hackers para o governo. Os hackers não costumam aceitar as coisas do jeito como são e tentam muda-las. A terceira medida é passar a usar tecnologias com código aberto. Só assim podemos compartilhar soluções. E pensar na população de modo sério. Se não há interesse no que ela tem a dizer, não se conseguirá engajá-la. Fazendo isso, é possível ter uma cidade que funcione como uma plataforma de mudanças.

Att.

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